sábado, 20 de dezembro de 2008

A vida é bela pra quem sabe viver

Esses dias encontrei um amigo, em quase perfeito estado de saúde, que não fazia outra coisa senão se lamentar por ter que passar o final do ano sem dinheiro. É triste passar esses dias festivos duro ($$$), mas pior deve ser passar com a falta inesperada de um ou mais entes queridos, sem casa, comida, pernas, braços e blá; assim como está sendo para muitas vítimas das enchentes em Santa Catarina e Minas Gerais, que além de tudo o que sofreram, ainda foram roubadas e enganadas por pessoas que deveriam estar protegendo eles. Natal, ano novo... O que estes, que perderam quase tudo, menos o mais importante que é a vida, mais querem é recomeçar. Resumindo, quando olhamos para o lado, sempre tem alguém pior do que a gente.

Voltando a falar no dim dim, quando recebo meu salário, ao invés de falar em dia de pagamento, costumo trocar o termo por dia de pagar as contas, já que o que sobra para tirar um lazer, na verdade falta. Tem sempre que atrasar uma conta para fazer outra, senão a gente não vive. Masss... “Não tenho tudo o que quero, mas quero tudo o que tenho”. É um ditado bem velhinho, mas caiu bem para o momento. Minha vida, minha saúde e a presença de meus entes queridos do meu lado são tudo para mim. O resto a gente conquista. Tem gente que não tem nem perna pra andar e ainda agradece a Deus todo dia por estar vivo! Tem exemplo melhor para se espelhar? Tenho um amigo cadeirante, em minha cidade (Aguaí), que é conhecido por todos como Flavinho da cadeira de rodas. Dizem que ele teve paralisia infantil. Nem por isso ele é um infeliz, de mau com a vida. Já tomei várias cervejas com ele, que mesmo depois de “umas e outras”, nunca me reclamou de sua deficiência. Pelo contrário, sempre rimos muito as poucas vezes que paramos para conversar. Apesar de suas dificuldades, ele está vivo e procura viver da melhor maneira, já que a vida é curta.

Uma vez, em São Paulo, vi um senhor sem as duas pernas em cima de um carrinho de rolimã rasgando as ruas do bairro Santana entre os transeuntes, como se não tivesse problemas.

No começo da década de 90, assisti uma palestra de uma advogada que não tinha pernas, nem metade dos braços, mas agia como se tivesse. Isso tudo me ensinou a dar mais valor na vida. Depois disso, criei vergonha na cara e parei de reclamar de barriga cheia. Por outro lado...

Outro dia um amigo me chamou no portão para desabafar; disse que às vezes sentia vontade de se jogar na frente do primeiro trem que passasse, devido as dificuldades financeiras que estava enfrentando. Falei pra ele que sempre tem um pior do que a gente e ele achou que eu tava “tirando”. Disse que não tinha se matado ainda porque não teve coragem, mas depois disso, ele já foi preso por assalto a mão armada, tráfico de drogas e recentemente participou de um assassinato. Talvez se tivesse se matado, não teria feito tanta merda.

Na semana passada, passei na casa de uma amiga e encontrei o filho dela aos prantos por causa da ex namorada. A mãe dele me disse que ele falou que vai se matar por causa da menina. Que injustiça. Pensei em falar tanta coisa na hora, mas só falei pra ele se amar antes dos outros. Como diria o rapper De Leve, “quem se importa se eu me mato, quem se importa se vou ter comida no prato? Quem se importa se tomo veneno de rato? Quem se importa contigo é sua mãe e isso é fato”...

Enquanto muitos de nós passamos as festas de fim de ano com fartura (ou não) na mesa e no bolso com a família reunida, em Santa Catarina e Minas Gerais tem milhares de desabrigados que perderam muito do que tinham nas enchentes; inclusive parentes e amigos. Foram pegos de surpresa! Ninguém deles esperava por isso. Quem espera? Agora nego que tem saúde vivendo do bom e do melhor, com todos os membros no lugar, dizendo que vai se matar por causa de namorada ou dívidas? Será que ainda não olharam para o lado? Se olharam, estão esperando o que? Como diria o sambista Zeca Pagodinho, “na vida, a coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia”... Vamos comemorar a vida, que é o mais importante.